Localização: Timbó
Ano de Fundação: 2004
NESTE EPISÓDIO DO PODCAST MUSEUS DE SANTA CATARINA, visitamos o Museu da Música que fica em Timbó-SC no antigo Salão Hammermeister.
O museu foi criado em 2004 pelo pastor luterano Hans Hermann Ziel e apresenta um acervo constituído por instrumentos musicais dos mais variados tipos, épocas e países, originais e réplicas; coleções de gravuras, métodos, partituras, livros, discos e desenhos técnicos.
Nosso podcast é um guia de áudio para lugares históricos, interessantes e inspiradores de Santa Catarina. Em pouco mais de 10 minutos, te levamos a conhecer um museu incrível e, ao longo do caminho, histórias fascinantes.
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[Som transição] [Campainha]
“A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.”- Arthur Schopenhauer
No episódio de hoje, apresentaremos o Museu da Música, que fica na cidade de Timbó.
Vamos conhecer sua história e curiosidades sobre seu acervo.
[Som transição]
O Museu da Música se localiza ao lado de uma rodovia, a SC 477, próximo ao Rio Benedito. Sua sede é num antigo salão de bailes dos imigrantes alemães da região -o salão Hammermeister.
O salão foi erguido em 1904 pela família Hammermeister. Augusto Hammermeiter contou certa vez que durante a construção, aconteceu um fato inusitado: a família se empenhava na obra quando Arthur, pai de Augusto, estava no salão, viu uns passarinhos quando resolveu segui-los para fora da construção. No exato momento em que o jovem saiu, uma viga enorme despencou e levou parte do salão a desabar. Se o jovem ali estivesse, provavelmente não escaparia da morte. Sorte ou passarinho, fato é que o salão já nasce venturoso e cheio de história.
O salão, cujo nome ficou associado à família construtora, Hammermeister, era muito frequentado pela comunidade e estava sempre à disposição para apresentações de corais, peças teatrais e demais eventos cênicos.
No salão havia um bar, ainda hoje é possível ver o alçapão que dava acesso ao porão, fica atrás da estante de oboés.
O salão foi construído em alvenaria autoportante, ou seja, a estrutura sustenta o próprio peso, sem precisar recorrer às sustentações complementares. A arquitetura do salão foi feita com uma técnica alemã, semelhante à das casas de Hamburgo, no norte da Alemanha, um estilo expressionista da década de 1920, conhecido como Backsteinexpressiunimus.
Das modas arquitetônicas na Alemanha das primeiras décadas do século XX tinham aquelas que se filiavam ou à linha industrial e à busca pela funcionalidade da Bauhaus ou ao expressionismo que buscava criar um design que valorizasse os ornamentos a partir do simples.
O salão foi construído com tijolos que foram queimados em diferentes temperaturas, o que propiciou uma rica paleta de cores do marrom, do vermelho e do violeta. O salão Hammermeister apresenta na fachada tijolos geométricamente organizados na diagonal, o que imprimiu uma beleza estética destacada na construção através da policromia advinda da colocação direcionada dos tijolos em padrões.
Até 1961 o salão era usado para festas e bailes, depois foi usado exclusivamente como moradia pela família.
A casa da família ficava nos fundos, anexa ao salão. Em 1990, o anexo com arquitetura enxaimel foi demolido. Enxaimel, ou Fachwerk {ˈfárvɛrk} (em alemão), é uma técnica de construção em que as paredes são feitas de vigas de madeira posicionadas na vertical, horizontal e diagonal e formam uma espécie de treliça. Os espaços são preenchidos com tijolos, pedras, adobe, taipa e outros materiais.
Ainda hoje, o salão mantém as vigas e assoalho originais.
A técnica de construção do edifício foi tombada como patrimônio histórico pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) no ano 2000.
Em 2001, salão foi adquirido pela Prefeitura de Timbó já com o intuito de transformá-lo em Museu. Quando o salão completou 100 anos, em 19 de setembro de 2004, o Museu da Música foi inaugurado e teve como idealizador o Pastor Hans Hermann Ziel, com o apoio da Prefeitura Municipal.
O acervo contou inicialmente com 150 instrumentos musicais, históricos e atuais. Hoje possui mais de 2.000 peças dentre partituras, gravuras, métodos, desenhos técnicos, objetos e instrumentos musicais advindos de diferentes locais: República Tcheca, Alemanha, França, Armênia, Egito, além de flautas indígenas e andinas.
A maioria dos instrumentos pertencem ao pastor e estão cedidas ao museu, mas também há peças advindas de doações. Há instrumentos musicais barrocos e renascentistas, que o pastor trouxe de viagens à Europa e também instrumentos que ele construiu.
Entre as peças importantes estão duas peças do século XVIII:
flauta transversa de 1760
Violino barroco de 1770
De acordo com a plataforma Museus BR, existem hoje no Brasil 7 instituições dedicadas à acervos relacionados à Música:
1 em Salvador
2 no Rio de Janeiro
2 em São Paulo
1 em Minas Gerais
1 em Santa Catarina
Desses, o Museu de Música de Timbó é o que apresenta o maior acervo de instrumentos musicais do Brasil.
O Museu se dedica a apresentar uma narrativa que conta a histórias dos instrumentos musicais e apresenta o universo sonoro da cultura musical.
Acordeon, alaúde, cornetti, cromorne, espineta, flügelhorn, harmônio, organeta, rabeca, sousafone, viola da gamba, piano são alguns instrumentos que podem ser conferidos no museu. Os visitantes podem conferir tanto os instrumentos quanto a evolução das formas de ouvir música, desde os discos de vinil, as fitas K-7, CDs, pen-drives, entre outros.
O museu se dedica à salvaguardar o patrimônio musical material e estimular a produção imaterial da música ao promover eventos no salão bem como o uso de alguns instrumentos do acervo. O Museu nos mostra que música pode ser objeto de museu e um meio de memória.
Em 2015, a Lei nº 2772, reconheceu o Museu da Música de Timbó e sua construção histórica como de interesse cultural, social e turístico e o considerou patrimônio material e imaterial. Junto com o Morro Azul, Jardim Botânico, Complexo Turístico da Thapyoka, Parque Central, Museu Casa do Poeta Lindolf Bell e Confluência dos Rios Benedito e dos Cedros, o Museu da Música foi classificado como Uma das “Sete Maravilhas de Timbó”.
Agora, vou apresentar o responsável pela idealização do museu: pastor Hans Hermann Ziel. O pastor é músico e luthier e, a partir de seu próprio acervo, idealizou o Museu da Música que foi viabilizado pela Prefeitura de Timbó.
Hans Hermann Ziel nasceu em Allenbach, na Alemanha, no ano de 1939 – Ano que se iniciou a 2º Guerra. Por este motivo, foi em casa que aprendeu a ler e a escrever. Em 1957, se formou na Escola de Administração Pública. Foi ainda na juventude que seu interesse pela música o levou a desenvolver suas habilidades: aprendeu flauta doce e violino. Depois por sua imensa curiosidade com os instrumentos, aprendeu a tocar harmônio, Flügelhorn e trombone de vara. Também integrou o coral de sua cidade como tenor. Em seguida, começou a construir instrumentos: uma rebeca de 4 cordas e, depois, uma rebeca de 6 cordas.
Em 1968 chega ao Brasil e vai desenvolver seu trabalho pastoral luterano em Joinville. Logo em seguida vai para Blumenau, onde atuou até 1988.
Em 1976, aconteceu um fato inusitado: dois oboés lhe foram roubados. Diante da ausência desses instrumentos, o pastor decide dar continuidade à sua saga de luthier e construir seus próprios instrumentos. Dessa forma, com seus conhecimentos e habilidades constrói em madeira Araribá: 2 oboés, 1 flauta doce tenor, 1 flauta transversal barroca, 1 fagote barroco.
Em 1990 assumiu a regência da Banda Municipal de Timbó Prof. Joâo Müller”, onde se manteve até o ano de 2001. Durante sua trajetória, o pastor adquiriu e construiu muitos instrumentos musicais e cultivava o sonho de criar um espaço onde pudesse expor todos aqueles instrumentos e promover uma aproximação da juventude, da comunidade e do público em geral com a música.
O Pastor Hans Hermman Ziel idealizou e apresentou o projeto para a prefeitura de Timbó que topou criar o Museu da Música.
Agora vou contar um pouco sobre como foi a visita.
Interessante notar que Música e Museu são palavras que têm em si a mesma origem: as musas. A palavra museu tem origem na Grécia antiga, vem de museion, que significa Templo das Musas. A palavra “música”, tem origem na expressão grega musiké téchne, que significa a Arte das musas.
Quem são as musas? Na mitologia grega, Zeus, o deus dos deuses e Mnemosine, a deusa, guardiã da memória tiveram um relacionamento amoroso por nove noites e o fruto dessa união deu origem a nove musas:
Calíope: a musa da eloquência
Clío: A musa da história;
Euterpe: A musa da poesia lírica
Tália: A musa da comédia
Melpômene: A musa da tragédia
Terpsícore: A musa da dança
Érato: A musa dos versos eróticos
Polímnia: A musa dos hinos e a narradora de histórias
Urânia: A musa da astronomia
Enquanto a música trata da manifestação das musas, o museu é o lugar de habitação das musas. Dentre tantas formas de patrimônio cultural, pode a música ser uma delas? E mais: música pode ser objeto de museu? Pois a resposta já vem rápida: música não apenas é memória, como produz memória. A música alcança duas perspectivas: aquela ligada ao patrimônio musical material (afinal fazer música requer suportes físicos: seja um instrumento, uma partitura…) e aquela ligada ao patrimônio musical imaterial (a música e as formas de fazer música).
Estive no museu no final de março de 2022 e lá descobri que é o museu com o acervo de instrumentos mais importante do país e recebe um público de 4 a 5 mil pessoas por ano.
Saí da rodovia SC 477, virei e estacionei do lado de fora da cerca embaixo de uma árvore frondosa e dali já avistei o Salão Hammermeister com sua arquitetura alaranjada e seus tijolos ricamente coloridos que decoram a fachada do Museu.
Segui um caminho que me levou até a porta verde com 3 degraus.
Ao adentrar o museu de olhar para baixo, o chão de madeira e para o alto uma estrutura de vigas de madeira. Um enorme salão com um altar à direita, ao centro cadeiras de ferro com assento de veludo vermelho e à esquerda e ao fundo, as vitrines com os instrumentos expostos.
A exposição começa com um totem do fundador, o pastor alemão, radicado no Brasil Hans Hermman Ziel. O acervo do museu é composto por peças do pastor e instrumentos doados por músicos de todo o Brasil. A primeira vitrine apresenta os instrumentos de metal: trompa, trompa barroca, trompete, flugelhorn e trombone de vara.
Em seguida, os sopros das flautas doces e flautas transversais.
A exposição informa que a flauta foi o primeiro instrumento da humanidade e que há registros de pinturas de flautas e apitos em cavernas, que datam de 6.000 a.C. As primeiras flautas mais pareciam apitos, pois só tinham um buraco; eram feitas de tíbia de animais ou de humanos. Com sua evolução através dos tempos surgiram outros instrumentos de sopro como o oboé, o fagote e a flauta doce, flautas barrocas e modernas.
Tem um kangling, um pequeno trompete tibetano de metal usado em rituais budistas. A campana tem o formato de um monstro mítico chamado makara. Na placa do museu diz que, na prática tântrica budista chamada Chod, uma prática de meditação tibetana introduzida pela mestra Machik Labdrön no século XII. A técnica inclui visualizar o próprio corpo sendo cortado, transformado e oferecido às deidades e a outros seres. Trata-se de prática de purificação e limpeza em que os praticantes são motivados a cortar o ego e estimular a compaixão.
Para isso, eles tocam o Kangling para invocar espíritos e oferecem seu próprio corpo para satisfazer sua fome. O instrumento é uma peça muito bonita de corpo preto e detalhes do monstro em dourado.
Em seguida, um Gemshorn que é uma flauta medieval com um furo cônico feita de chifre de camurça ou boi.
Outro instrumento exposto no museu é o cromorne, um instrumento em formato de bengala, feito de madeira cilíndrica, muito fina. É um instrumento tipicamente renascentista muito difundido no norte da Itália, Alemanha e Países Baixos.
Instrumentos de palheta dupla como shalumô Oboés, um oboé egípicio, clarinetas antigas e modernas. A peça mais antiga do Museu é um shalumô (o antecessor da clarineta) de 1661. O instrumento foi doado por Leopoldo Balestrini de Belo Horizonte-MG em 2013.
Saxofones, Fagotes, violinos em diferentes afinações. Violinos, viola clássica e um baixo acústico, além de cavaletes, arcos e crinas. Harmônios e pianos antigos, inclusive, um piano antigo com suporte para vela para iluminar a partitura e as teclas.
Também fica exposto um piano de armário que, foi resgatado de uma enchente que aconteceu em 1983, fica exposto para que os visitantes possam compreender o funcionamento de um piano.
No momento da minha visita, acontecia uma exposição sobre ”A história dos instrumentos de percussão”. Alguns instrumentos de percussão como tambores, pandeiros e chocalhos estavam em uma vitrine e instrumentos feitos com materiais reaproveitados como canos de pvc e garrafas de vidro estavam expostos de forma que podiam ser tocados e manuseados pelo público. A exposição permitiu conhecer a história da origem desses instrumentos, sua evolução e seu uso através dos séculos.
Ricardo Hedler, auxiliar do Museu me informou que o museu realiza vários eventos como o Café Musical que acontece geralmente entre as 09:30h às 11:30h, no terceiro domingo do mês e é um evento gratuito. O café musical tem apresentações com grupos diferentes da cidade, da região e de diferentes lugares. O museu serve um café gratuito pro público ali também: café, cuca e salgado.
Setembro é o aniversário do museu e desde 2009 acontece a Noite dos candelabros em que a orquestra de câmara de Timbó se apresenta na frente do museu, todas as luzes do salão são apagadas e as velas dos candelabros ficam acesas. O museu também promove uma feira do vinil, Tarde Rock, concerto noturno além de outros eventos. O museu também desenvolve ações educativas ao receber grupos de alunos e professores para visita guiada.
O Museu da Música funciona de terça a domingo das 08:30h às 17:30h. Grupos devem realizar agendamento para visita guiada.
A entrada custa R$2,00 para a comunidade e R$1,00 para estudantes.
Como vimos, Música e Museu tem tudo a ver, inclusive, vocês podem acessar nossa playlist Música e Museu) no Spotify com músicas que falam sobre museus. O link fica disponível nos destaques do nosso instagram.
Foi um prazer te guiar até aqui!
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Novos episódios sábados
Roteiro e Produção:Taiana Martins
Técnico e edição de som: Gustavo Elias
Apresentação: Taiana Martins
A primeira temporada do podcast Museus de Santa Catarina foi selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura – Edição 2021, executado com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense da Cultura.
Para saber mais, siga-nos nas redes sociais e no site do projeto: www.podcastmuseussc.com.br
Um abraço e
Até a próxima!
FÁVERI, Marlene. Tempos de Intolerância: repressão aos estrangeiros durante a Segunda Guerra Mundial em Santa Catarina. REVISTA ESBOÇOS Volume 16, Nº 22, pp. 91-109 — UFSC.
FÁVERI, Marlene. A repressão no Governo Vargas e as medidas coercitivas aos simpatizantes do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Cena Internacional, vol. 8, no 2
MARQUES, Mayra de Souza. Trajetórias do Museu da Música de Mariana: mutação e pluralização dos meios da memória cultural. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2018.
MAYR, Ana Angélica Dantas Alves. Condições sócio-culturais da preservação teuto-brasileira em Timbó- SC. Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Sociologia Política. Florianópolis, 1993.
SCHILEY, Clara Aniele. Meu, teu, nossos olhares docentes sobre o Museu de Arte: o salão de arte como espaço de mediação dos saberes. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, da Universidade do Vale do Itajaí, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação. Itajaí, 2015.
Fontes:
SITE Haryschweizer – Hans Hermman Ziel – Disponível em: https://www.haryschweizer.com.br/Galeria/foto_mes/hans.htm
Moção de Aplauso nº0022/2019 – reconhece o Museu da Música como de interesse cultural e turístico e uma das “Sete Maravilhas de Timbó”.
YOUTUBE – Acervo do Museu da Música de Timbó está exposto em shopping de Blumenau. Canal Balanço Geral Blumenau, julho, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hD_Ahy0xJt0
YOUTUBE – Museu da Música {Olhares Universitários #46}. Canal Olhares Universitários, novembro, 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9tQzmx0QnGM
YOUTUBE – Museu da Música – Antigo Salão Hammermeister – Timbó – SC. Canal Angelita Wittman. Novembro, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EM_J3sRqdcY&t=123s
YOUTUBE – NT 28-03-2011 – Daniel Koepsel – 01. Canal EvandroLoes1968, março, 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=i-MWX5kAHio
YOUTUBE – O turismo de Timbó em Foco/ com Carlos Henrique Roncalio. Canal Página 2, maio, 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cEyhC3iUax4
YOUTUBE- Programa Ver Mais – Museu da Música. Canal Susan Germer. fevereiro, 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cRI8s-7YpeY&t=113s
Podcast Museus de Santa Catarina – Sua visita guiada aos museus do estado. Taiana Martins. Florianópolis, 2022.