Localização: Biguaçu
Ano de Fundação do Museu: 1979.
NESTE EPISÓDIO DO PODCAST MUSEUS DE SANTA CATARINA, visitamos o Museu Etnográfico Casa dos Açores, criado em 1979, que fica em Biguaçu num antigo casarão colonial que abrigou a família de um rico senhor da região.
O museu apresenta um acervo que mostra a vida cotidiana dos primeiros imigrantes açorianos e seus descendentes na região.
Nosso podcast é um guia de áudio para lugares históricos, interessantes e inspiradores de Santa Catarina. Em pouco mais de 10 minutos, te levamos a conhecer um museu incrível e, ao longo do caminho, histórias fascinantes.
Junte-se a nós para se aventurar nos museus do estado de Santa Catarina.
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Episódio#02 Museu Etnográfico Casa dos Açores
Museu:Museu Etnográfico Casa dos Açores
Localização: Biguaçu
Ano de Fundação: século XIX
[Vinheta ]
Olá,
Sejam bem-vindos e bem-vindas ao podcast Museus de Santa Catarina, sua visita guiada aos museus do estado. [Som transição] [Campainha]
No episódio de hoje, vou contar para vocês sobre o Museu Etnográfico Casa dos Açores que fica em Biguaçu. É um museu muito interessante e popularmente conhecido como Museu mal-assombrado.
Vamos conhecer sua história e curiosidades sobre seu acervo.
[Som transição]
Vamos do início:
A Casa dos Açores fica localizada em São Miguel da Terra Firme, no município de Biguaçu, na margem esquerda da BR-101 no sentido Sul-Norte.
Trata-se de um casarão colonial construído no século XIX e que, atualmente abriga o Museu Etnográfico. O museu integra um conjunto arquitetônico, formado pela Igreja de São Miguel Arcanjo, a chácara e os arcos do antigo aqueduto.
Distante aproximadamente 20 km do centro de Florianópolis, o casarão é um importante registro do apogeu da colônia açoriana da localidade de São Miguel.
Um enorme casarão colonial de parede de taipa, datado do século XIX, localizado na baía de São Miguel da Terra Firme, atualmente distrito do município de Biguaçu, abriga o Museu Etnográfico Casa dos Açores.
Construído a mando de João Ramalho, rico senhor de escravos conhecido por sua violência com as pessoas escravizadas sob seu domínio. Na sequência, o imóvel foi adquirido por outro senhor Manoel Joaquim Madeira, que o reformou em 1865.
No início do século XX, nos anos de 1920, a casa era uma das mais nobres e importantes da região e hospedou personalidades como o governador Hercílio Luz.
Em 1950, o casarão foi usado como prisão para abrigar presos do Estado que trabalhavam na abertura da estrada de Ganchos, no município de Governador Celso Ramos.
Um pequeno arquipélago de nove ilhas oceânicas localizadas no meio do Atlântico habitado por muitos pássaros que deram nome ao local: os Açores é o ponto de partida para a compreensão da identidade catarinense. As ilhas açorianas eram muito povoadas e havia escassez de alimentos, além de presença constante de abalos sísmicos. A Coroa Portuguesa tinha as terras ao sul do Brasil que precisavam ser ocupadas. Para tornar essa mudança mais atrativa, o rei D. João V promete “mundos e fundos”: como pedaço de terra, armas, instrumentos e animais. Uma expedição sai das ilhas açorianas rumo à ilha do Pato, que depois seria renomeada Ilha de Santa Catarina (diz-se que porque era dia de Santa Catarina, mas também pode ter sido o nome da esposa de João Caboto-navegador português).
Em 1748, o fluxo migratório de Açores e Madeira culminou com a fundação de diversas povoações ao longo do litoral da província de Santa Catarina; dentre elas estava a de São Miguel da Terra Firme, às margens da Baía Norte, fronteira com a Ilha de Santa Catarina, que em 1750 recebeu o primeiro grupo de 140 famílias de imigrantes;
A região prosperou de tal forma que em 1778, a vila de São Miguel foi elevada capital da província temporariamente, quando a ilha de Santa Catarina foi ocupada por espanhóis.
Os açorianos vieram e trouxeram seus hábitos, costumes, festanças, modos de fazer e ser; sua cultura.
Em 1978, o imóvel foi adquirido pelo Governo do Estado de Santa Catarina e após restauração, em 4 de março de 1979 foi inaugurado o Museu Etnográfico Casa dos Açores. O Museu busca recompor a vinda e os costumes dos primeiros açorianos em terras catarinenses.
Em 2018, o Conjunto Luso-Açoriano formado pelo Museu Etnográfico Casa dos Açores, Igreja de São Miguel Arcanjo, Arcos do antigo Aqueduto e a Fonte da Carioca foi tombado como patrimônio Histórico de Santa Catarina pelo IPHAN ( Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
O acervo do museu é composto por peças cotidianas pessoais dos antigos donos da residência, trajes e instrumentos musicais doadas pelo Grupo Arcos-Grupo Folclórico Açoriano de Biguaçu. Roupas, sapatos, lenços, malas, baús, tapetes, os quartos, sala, móveis como mesas e cadeiras do século XIX se apresentam expostos e contribuem para a narrativa da cultura açoriana.
Peças de cerâmica como vasos, copos, pratos, rendas de bilro e maquetes da labuta do trato com os animais e o moinho para a farinha. O uso da farinha foi uma adaptação uma vez que o plantio de trigo não vingou. A sala e o quarto principal tem suas janelas voltadas para o mar, as janelas do corredor da casa são voltadas para a igreja e as demais janelas dos quartos voltadas para o pátio lateral de entrada. O casarão possui pátio interno e um enorme jardim que dá acesso a uma casa de palha. Há ainda fotografias intituladas “Portugueses na ilha de Santa Catarina”.
Em 2017, foi inaugurada uma exposição permanente com trajes típicos, instrumentos musicais, cestaria, cerâmica, rendas e jogos infantis que remetem à tradição açoriana. O acervo narra a trajetória, hábitos e costumes dos colonizadores açorianos no litoral catarinense.
A coleção em exposição começou a se formar no início dos anos 1990, a partir de aquisições do Grupo Arcos e doações voluntárias da comunidade. São pelo menos 40 trajes originais, vindos do Arquipélago dos Açores e de residentes da região litorânea de Santa Catarina, entre peças típicas, vestuários de camponeses, de trabalho, de festas e sociais de época. Há também utensílios de trabalho do século 19, como os tipitis (prensas ou espremedores de palha), roca de fiar, carro-de-boi e instrumentos de festas e danças tradicionais.
São objetos em cerâmica, mobiliário e vestimentas. Os engenhos estão representados em miniatura por maquetes de madeira que representam engenhos de cana-de-açúcar, farinha e serraria.
O acervo foi criado a partir de doações do Governo dos Açores, importante ilha de Portugal e outros itens e objetos, são da família Madeira Reis que residiu no casarão até o fim dos anos de 1960.
Muitas pessoas têm medo do casarão e o chamam de mal assombrado. Reportagens mostram relatos de pessoas que já viram espíritos na janela do 2° andar. Este museu é palco de fatos assustadores e paranormais. Visitá-lo é uma experiência recheada de curiosidades.
Estive no Museu Etnográfico Casa dos Açores em fevereiro de 2022. Fui de carro, partindo de Florianópolis. Fiz um retorno, pois o museu fica à beira da rodovia. Ao chegar, estacionei à sombra de uma enorme árvore frondosa. Era uma manhã de céu azul, desci do carro e me deparei com um enorme casarão amarelo que contrastava com a grama verde plantada em volta do casarão. Do outro lado da rodovia, dá para avistar o mar.
Ao entrar no casarão, me deparei com um pátio lateral nele, tem uma porta em que é possível acessar a sala da recepção, onde tem 2 balcões: um da recepcionista e outro com peças e informes.
A exposição começa numa grande sala de chão e móveis de madeira como mesa e cadeiras, há dois quartos separados por um corredor. Nesses quartos há cama, armários, vasos, e roupas típicas em manequins. Um corredor, onde se vê rendas de bilro e um pequeno suporte de bilro.
Há um outro salão com roupas típicas de camponeses pobres e de famílias abastadas, em que pelo tecido e pela modelagem da roupa percebe-se claramente a posição social dessas pessoas. Depois, uma sala com diferentes vasos de cerâmica e quadros com fotos de oleiros na parede.
Na sequência, o acesso ao pátio interno que tem dois espaços um com uma coleção de miniaturas de engenhos de farinha, cana e serraria em madeira. No outro espaço tem objetos expostos, há carros de boi, peneiras, parafusos de madeira e objetos da vida rural e, representando a pesca: duas canoas de madeira.
O jardim dá acesso à Casa do Pescador, a reprodução do espaço mostra o material usado na atividade econômica típica dos colonizadores que ali chegaram. Ali também pode ser vista uma carioca, nome dado às antigas fontes de água. Construída por africanos escravizados, a carioca da Casa dos Açores era utilizada pelas mulheres negras para lavar a roupa e abastecer a casa. O pátio externo nos contempla ainda com diversas espécies da mata atlântica e árvores frutíferas.
De volta ao interior do casarão, há ainda uma sala em homenagem à grande personalidade da região: o Cônego Rodolfo Machado, com fotos e objetos pessoais como máquina de escrever e manuscritos.
Rodolfo Pereira Machado nasceu em Canasvieiras, Ilha de SC, em 13 de novembro de 1908. Com pais lavradores e pescadores, era o caçula de oito irmãos, e passou a infância em Cacupé e Santo Antônio de Lisboa.
Aos 16 anos foi indagado se gostaria de ser padre e prontamente disse que sim. Foi morar na Catedral, com o Pe. Jaime de Barros Câmara. Em 1926 foi para o Seminário da Conceição, em São Leopoldo, RS.
De 1931 a 1936, cursou filosofia e teologia no Seminário Maior de Mariana em Minas Gerais. Em 1937 foi ordenado presbítero em Itajaí.
Em 1943 assumiu como pároco em São João Evangelista de Biguaçu. Biguaçu era uma paróquia muito pobre, incluía os Ganchos (Gov. Celso Ramos) e, a partir de 1950, Antônio Carlos. Em 1950 deu início à construção da nova matriz, inaugurada em 1954.
Era um líder religioso engajado politicamente e filiado à UDN (União Democrática Nacional), partido político fundado em 1945, de orientação conservadora.
Organizou e fundou a primeira Associação Rural de Biguaçu, sendo o primeiro presidente.
Empenhou-se pela água encanada na cidade, por um mini hospital (o qual conseguiu um posto de saúde) e pela fundação do Colégio Estadual (que atualmente leva seu nome).
A partir de 1964 começou a dar aulas de música.
Em 1976 deixou o ofício de pároco e em 1978 parou de dar aulas, compulsoriamente, por idade.
Faleceu em 2001.
De volta ao museu, ao subir as escadas de madeira, agora no 2° andar, à esquerda é possível ver bonecas e pequenos vasinhos usados por crianças em suas brincadeiras. Um enorme e florido pau de fita no centro de uma grande sala. A partir daqui, dois lugares bastante curiosos: o auditório que fica localizado num mezanino sob o telhado, onde é possível ver de perto as telhas originais da casa.
É comum ouvir que as telhas foram feitas nas coxas dos escravos que construíram o casarão e que daí vem a expressão “feito nas coxas”. Mas, o estudo de 2006, do arquiteto e superintendente do IPHAN, José La Pastina Filho, mostra que o uso da telha cerâmica do tipo capa e canal ou romana, de forma tronco-cônica foi muito difundida no Brasil colonial e era uma técnica que afinava o barro para fazer a pingadeira, isto é, um sulco para evitar o refluxo das águas da chuva para o interior do telhado. Não há nenhuma comprovação histórica ou científica de que as telhas eram feitas nas coxas de africanos escravizados por 2 simples motivos:
1º motivo: As telhas têm em média 75 centímetros de comprimento, logo para uma coxa produzir uma telha dessa, o ser humano deveria ter 3,5m. OU seja: humanamente impossível.
2º motivo: Econômico. Sairia muito caro manter esse escravo imobilizado (para o molde secar) por horas. Além de que, ainda precisaria de outros dois para levar as peças para secagem.
Ao lado do auditório, vê-se uma pequena porta com uma placa escrito: esconderijo. Quando você abre a portinha, uma escada dobrada para acessar uma pequena sala:um esconderijo. Trata-se de uma sala camuflada. Uma porta de madeira verde, se confunde com o acabamento da parede, mas ao abrirmos a “parede”, nos deparamos, na verdade, com um esconderijo utilizado durante a invasão espanhola em 1977.
Eu não tive nenhuma experiência sobrenatural no museu.
[Som transição]
O museu abre suas portas de terça a domingo das 08h às 17h.
Entrada Franca.
Essa foi nossa aventura de hoje: no Museu Etnográfico Casa dos Açores
Foi um prazer te guiar até aqui! Gostou de saber sobre esse museu? Você já o conhecia??
Quer ouvir a história de algum museu aqui no nosso podcast?? Quer contar alguma curiosidade que nao contamos aqui?
Alguma história sua em museu?
Manda um email pra gente:
Podemos responder no próximo episódio.
Novos episódios todos os sábados às 10h no Spotify.
Roteiro e Produção: Taiana Martins
Técnico e edição de som: Gustavo Elias
Apresentação: Taiana Martins
A primeira temporada do podcast Museus de Santa Catarina foi selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura – Edição 2021, executado com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura.
Para saber mais, siga-nos nas redes sociais e no site do projeto: www.podcastmuseussc.com.br
Um abraço e
Até a próxima!!
Referências Bibliográficas
CUNHA, Wellington Antunes. Aspectos da presença da identidade açoriana no litoral catarinense. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UFSC, Florianópolis, 2016.
FLORES, Maria Bernadete Ramos. A farra do boi: palavras, sentidos e ficções. Ed UFSC: Florianópolis, 1997.
JOHAS, Trielle Mota. Memória e Ensino:diálogos possíveis – Museu Etnográfico Casa dos Açores. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciências Humanas da Universidade Estadual de Londrina – UEL, Londrina, 2016.
Fontes:
YOUTUBE – O fantasma no museu – Reportagem – Projeto acadêmico para a disciplina TELEJORNALISMO I, do curso de jornalismo da Univali, Itajaí, SC. Repórter: Ana Laux. Imagens: Fernanda Favreto. Fotos: Augusto Camargo. 2008. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bWPd5jzKSN4
YOUTUBE – Fantasmas no museu etnográfico de Biguaçu – Jornal do Continente da Record News. Repórter Felipe Filipini, 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=v05dY1i1sgE
Podcast Museus de Santa Catarina – Sua visita guiada aos museus do estado. Taiana Martins. Florianópolis, 2022.