Localização: Florianópolis

Ano de Fundação do Museu: 2003

 

NESTE EPISÓDIO DO PODCAST MUSEUS DE SANTA CATARINA, visitamos o Museu do Lixo de Florianópolis que fica em Florianópolis, no bairro do Itacorubi. 

O museu apresenta um acervo constituído por mais de 10 mil itens recuperados na coleta ou por entrega voluntária, através de doação. 

 

Nosso podcast é um guia de áudio para lugares históricos, interessantes e inspiradores de Santa Catarina. Em pouco mais de 10 minutos, te levamos a conhecer um museu incrível e, ao longo do caminho, histórias fascinantes.

 

Junte-se a nós para se aventurar nos museus do estado de Santa Catarina. 

 

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Fotos:

Taiana Martins

Transcrição do Episódio

Olá,

Sejam bem-vindos e bem-vindas ao podcast Museus de Santa Catarina- sua visita guiada aos museus do estado. 

[Som transição] [Campainha]

No episódio de hoje, apresentaremos o Museu do Lixo, que fica em Florianópolis-SC. Vamos conhecer sua história e curiosidades sobre seu acervo. 

“O que é bom para o lixo é bom para a poesia”.

Manoel de Barros

O Museu do Lixo fica no bairro do Itacorubi, em Florianópolis. Criado em  2003, está instalado em um galpão anexo à unidade de Reciclagem da COMCAP –  Companhia de Melhoramentos da Capital, no Centro de Treinamento e Educação Ambiental no Centro de Transferência de Resíduos Sólidos – CETReS – que atualmente é denominado, Centro de Valorização de Resíduos (CVR), e é o local de funcionamento da Estação de Transbordo da COMCAP, e o Centro de Triagem de lixo reciclado. 

Nesse ambiente de tratamento e manipulação dos descartes de toda a comunidade, é onde fica o Museu do Lixo de Florianópolis. 

No final da década de 1990, alguns trabalhadores da empresa COMCAP, que trabalhavam no centro de triagem começaram a selecionar diversos objetos, como ferros de passar roupa antigos. Assim, tiveram a ideia de montar um Museu do Lixo ao perceberem que muitos dos objetos que chegavam através da coleta seletiva não eram lixo.

O Museu do Lixo nasceu a partir da percepção dos funcionários da COMCAP. A empresa é pioneira na coleta seletiva.

Quem fazia a triagem do material eram os (as) funcionários(as) da empresa. Os funcionários que se machucavam ou estavam com mais idade ou tinham alguma doença e tinham sido readaptados.

À princípio, o material seletivo que era triado era vendido e esse dinheiro era revertido em cesta básica e distribuído na comunidade..

Esse era o princípio. 

Na triagem do material os funcionários achavam coisas antigas, essas coisas antigas apareciam de tudo: ferro, máquina de costura, máquina de datilografia, roupas, coisas de decoração. Aí eles pensaram em fazer o Museu do Lixo e guardaram os objetos que entenderam que carregavam histórias. Guardaram os objetos para futuramente criar o Museu do Lixo. Mas, o tempo passou, os funcionários pararam de fazer a atividade de triagem porque o material seletivo, arrecadado agora era distribuído para as cooperativas. 

Tudo o que era encontrado foi sendo colocado numa casa ao lado do antigo aterro sanitário da cidade, que funcionou em uma área de mangue no Bairro Itacorubi, de 1958 até 1990, quando foi desativado por pressão popular. 

A casa serviu como um depósito, um espaço de memória sobre os “hábitos e consumo da sociedade”. 

Não havia controle da entrada nem saída destes objetos, que, no decorrer dos anos, foram desaparecendo.

O galpão de triagem foi desativado pela COMCAP e os poucos objetos que restavam sumiram. 

Em 2002, ingressa via concurso público e começa a trabalhar na empresa: Valdinei Marques, o Nei. Habilidoso e criativo, Nei se destaca por sua sensibilidade e pela plasticidade com que manipula os objetos: é mesmo um artista plástico e visual que domina a escultura, a confecção de bonecos, figurinos, mosaicos entre outras criações.

Gilberto Souza, era gerente do Departamento de Criação e o convidou para montar um Museu do Lixo. Nei topou o desafio e começou a movimentar ações de coleta junto com outros garis, para  selecionar os objetos que integrariam o espaço museal. 

Deste modo: bichos de pelúcia, bonecos, calçados e tudo aquilo que classificavam como não lixo foi selecionado para esse novo destino: o Museu. 

O critério adotado para a seleção de peças para o acervo foi a antiguidade e a raridade do objeto. 

Em 2003, Nei selecionou um crucifixo para ser a peça inaugural do museu. A peça adveio  dos objetos provenientes da primeira tentativa dos funcionários da COMCAP de fazer um museu, no final da década de 1990. A cruz com a face de Jesus e a foto do grupo de triagem trabalhando na seleção de materiais numa esteira e a cruz com Jesus no alto. Nei faz uma analogia entre Cristo e o lixo: o nascimento de Jesus (a criação do objeto), os ensinamentos de Jesus (o uso, o fetiche do objeto), a morte de Cristo (o descarte do Material), a ressurreição (o reuso, o reaproveitamento, a reciclagem) e  a vida eterna (no museu).

Em 2013, o artista Murilo Antônio Pereira doou ao museu 368 desenhos produzidos durante mais de 30 anos. Atualmente, o acervo do artista está alocado em três caixas de papelão no Ateliê devidamente identificadas. As obras foram digitalizadas pela pesquisadora Gloria Alejandra Guarnizo Luna em 2017. 

Em 2015, a cruz, objeto inaugural do museu, foi colocada numa cúpula feita de materiais reciclados e está posicionada no centro do Museu.

Ainda sobre os objetos do acervo: Rádios, filtros de barro, canecas e bules em suas mais variadas formas antigas organizados em prateleiras com vidro.

Uma caixa de acrílico recheada de celulares com os dizeres:”Eu já tive um desses” atiça a curiosidade.

Discmans, videos-games e máquinas fotográficas e filmadoras em diferentes formatos e marcas também podem ser encontradas por ali. 

Um orelhão daqueles, à cartão, para fazer ligações, está instalado no meio do salão e bicicletas podem ser visualizadas penduradas no alto.

Sabe aqueles ferros de passar roupa, bem antigos? Vários de vários formatos. Relógios despertadores e de paredes além de bibelôs de porcelana também podem ser conferidos no museu.

As pesquisadoras Neiva de Assis e Andrea Vieira Zanella destacam que: “Esses objetos estão dispostos, no entanto, não para a evocação de lembranças de existências e seus modos de vida, tampouco como vestígio de certa condição de desenvolvimento social e tecnológico. Estão ali para provocar uma condição específica e suas possíveis respostas: a conscientização da necessidade de maior cuidado ao consumir e descartar objetos.”

Outros objetos chegam através do “Ponto de entrega voluntária”, que é disponibilizada para a comunidade interessada em depositar objetos que considera sem utilidade, mas com potencial necessário para serem reutilizados ou virarem peças do museu.

O Museu do Lixo trabalha com sistema de troca de peças com colecionadores, quando as mesmas estão duplicadas e são de interesse do museu.

Também funciona um sistema de empréstimo para estudantes, artistas ou grupos de teatro que frequentemente utilizam algum dos objetos para suas peças, trabalhos ou exposições.

O Museu do Lixo de Florianópolis conta ainda com um Ateliê de Criação, que é um espaço dedicado às “artes”, onde são confeccionados brinquedos com materiais reaproveitados, como: cestas de vime, garrafas plásticas, tecidos, flores de plástico, latas, fios, peças de computadores, peças de eletrodomésticos, objetos de ferro, guarda-chuva, entre outros.

O Museu do Lixo realiza exposições itinerantes fora do espaço museal, oferece oficinas e palestras para grupos de alunos de diversas escolas municipais e estaduais, e proporciona encontros entre pesquisadores de diversas áreas e níveis acadêmicos.

Por sua atuação incansável, o Museu do Lixo de Florianópolis é referência para as atividades de educação ambiental do Estado de Santa Catarina.

Vamos falar sobre a visita agora:

Visitei o Museu do Lixo em janeiro de 2022 que fica localizado no bairro do Itacorubi, à caminho para a UDESC. Ao chegar na cancela, fui encaminhada para o estacionamento, e de lá segui à pé até a entrada do Museu.

O Museu fica em um prédio retangular baixo, com uma fachada azul, onde se lê: Museu do Lixo.

Ao chegar fui recebida pelo Nei, pisávamos sobre uma enorme mandala colorida confeccionada com tampinhas de garrafa pet e cimento. 

Daí, ele me contou sobre o Museu: É um museu que se transforma, um museu itinerante, que guarda acervos como o de bonecos e escritos do artista e bonequeiro Sérgio Talstadi. Entramos no ateliê no alto, em 3 caixas, as telas do artista Murilo  Antônio Pereira.

Além disso, o museu tem um ateliê aberto para artistas e professores caso necessitem de materiais para cenários ou apresentações. 

Na sequência, Nei me acompanhou na visita guiada ao acervo e ele pôde me mostrar e tecer a narrativa do museu. Começamos por um painel: de um lado brinquedos tradicionais e do outro brinquedos eletrônicos descartados e selecionados para o museu. 

Caminhamos pela porta de entrada do museu, onde tinha 3 bonecos feitos com eletroeletrônicos e ferragens: eram os  três reis magos que Nei fizera para ser instalado em um presépio em uma praça em Coqueiros. 

Fomos até os pianos, passamos pelas fitas, caminhamos para as máscaras, Nei me contou de máscaras balinesas, africanas, seguimos para as televisões antigas, e enceradeiras. 

Depois entramos numa outra sala nela dois armários. O de cima tinha um quadro com uma foto em preto e branco com os trabalhadores da Comcap.

No alto da porta de entrada dois quadros: um pequeno feito com casca de ovo escrito Museu do Lixo e outro grande com os mesmos dizeres grafitados. 

Seguimos pelo acervo: máquinas de escrever, máquinas de costura, utensílios de cozinha como batedeiras, torradeiras, liquidificadores. 

Nei falou que decoração, cozinha e música são os 3 segmentos que mais recebem objetos  no museu. 

Por fim, as últimas peças da visita são uma bomba antiga de ferro usada para retirar água do poço, uma tábua de lavar roupa e uma máquina de lavar antiga. 

O Museu do Lixo abre de segunda a sexta, das 09h às 14h, exceto feriados. Escolas e grupos devem realizar agendamento.

Entrada gratuita.

Foi um prazer te guiar até aqui!

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Novos episódios sábados 

 

Roteiro e Produção:Taiana Martins

Técnico e edição de som: Gustavo Elias 

Apresentação: Taiana Martins

A primeira temporada do podcast Museus de Santa Catarina foi selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura – Edição 2021, executado com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura.

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Um abraço e

Até a próxima!

 

Referências Bibliográficas

DE ASSIS, N.; ZANELLA, A. V. Lixo: outras memórias da/na cidade. Fractal: Revista de Psicologia, v. 28, n. 2, p. 195-203, 6 nov. 2016.

LUNA, Gloria Alejandra Guarnizo. Museus do lixo no Brasil. / Gloria Alejandra Guarnizo Luna. – Itapiranga: Schreiben, 2021.

LUNA, Gloria Alejandra Guarnizo.O (não) lixo na era do consumo: museu, cidade, arte. Tese de doutorado. 2018. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.

Para citar esse podcast

Podcast Museus de Santa Catarina. Sua visita guiada aos museus do estado. Taiana Martins, Florianópolis, 2022.

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