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Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Souza

Pátio Interno do palácio rosado, com sua fachada rosa e portais brancos. Ao centro um pequeno lance de escadas de concreto

Localização: Florianópolis 

Ano de Fundação: 1979 e 1986

NESTE EPISÓDIO DO PODCAST MUSEUS DE SANTA CATARINA, visitamos o Museu Histórico de Santa Catarina  criado em 1979 na antiga Casa da Alfândega. O nome do museu é uma homenagem ao poeta simbolista nascido na Vila do Desterro em 1861. Em 1986, o Museu é transferido para o Palácio Cruz e Souza.

Nosso podcast é um guia de áudio para lugares históricos, interessantes e inspiradores de Santa Catarina. Em  pouco mais de 10 minutos, levamos você a um local incrível e, ao longo do caminho, você conhecerá histórias fascinantes.

Junte-se a nós para se aventurar nos museus do estado de Santa Catarina. 

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Galeria de Imagens

Fotos: Taiana Martins

Transcrição do Episódio

Episódio#01  – Museu Histórico de Santa Catarina- Palácio Cruz e Souza 

Localização: Florianópolis 

Ano de Fundação: 1979 e 1986

 

[Vinheta]

Sejam bem-vindos e bem-vindas ao podcast Museus de Santa Catarina- sua visita guiada aos museus do estado. 

[Som transição] [Campainha]

 

Acrobata da dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,

como um palhaço, que desengonçado,

nervoso, ri, num riso absurdo, inflado

de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,

agita os guizos, e convulsionado

salta, gavroche, salta clown, varado

pelo estertor dessa agonia lenta …

 

Pedem-se bis e um bis não se despreza!

Vamos! retesa os músculos, retesa

nessas macabras piruetas d’aço. . .

 

E embora caias sobre o chão, fremente,

afogado em teu sangue estuoso e quente,

ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Cruz e Souza

O episódio de hoje já começa com versos do poeta Cruz e Souza: apresentaremos o Museu Histórico de Santa Catarina, que fica em Florianópolis, a capital do estado.

Vamos conhecer sua história e curiosidades sobre seu acervo. 

[Som transição]  

O Palácio Cruz e Souza se destaca na paisagem do centro da cidade por sua suntuosidade, localizado no centro de Florianópolis, junto à Praça XV de Novembro e à Catedral Metropolitana, considerada o ponto zero da cidade. 

O Museu Histórico de Santa Catarina fica em um Palácio que teve sua construção ordenada, para ser a residência oficial e a sede do governo catarinense, em meados do Séc. XVIII, pelo primeiro governador da Capitania de Santa Catarina- brigadeiro José da Silva Paes. A mão de obra da construção foi toda feita pelo africano escravizado.

 Em 1893, a posse do palácio foi disputada à tiros pelas tropas federalistas e republicanas. 

Durante mais de um século, o Palácio passou por diversas modificações, uma grande reforma foi realizada no período de 1894-1898 e fez com que o prédio adquirisse as características de arquitetura neoclássica e barroca preservadas até hoje. Os ladrilhos da calçada à frente do palácio foram importados e assentados no ano de 1910.

Em 1954, deixou de ser residência e tornou-se Palácio dos Despachos com a transferência da residência oficial para a Casa d’Agronômica, no bairro florianopolitano da Agronômica. 

Nas décadas de 1960 e 1970 surge um movimento pela valorização da cultura catarinense. Então, em 04 de outubro de 1977 o governador Antônio Carlos Konder Reis assinou a lei que instituiu o Museu de Santa Catarina. No dia 02 de março de 1979 foi inaugurado o museu no prédio da Casa da Antiga Alfândega, na Rua Mafra.

Aqui vale comentar um episódio curioso relacionado ao Palácio: a Novembrada. 

Naquele ano, em novembro, durante uma visita do então presidente militar  João Figueiredo, um enorme protesto contra o regime ditatorial aconteceu. 

Tudo começou assim: o presidente tinha uma agenda no Palácio, de lá caminharia até a Felipe Schmidt e seguiria para um churrasco em Palhoça. 

Cerca de 2.000 pessoas estavam presentes na Praça XV de Novembro. O presidente foi cumprimentar os presentes na varanda. No meio da multidão, começou-se a ouvir palavras de ordem de um grupo de estudantes da UFSC. Populares que acompanhavam a solenidade juntaram-se ao coro e começaram a gritar palavras de ordem contra a carestia, o arrocho salarial e a ineficiência do governo militar em resolver a crise econômica.

O episódio ficou conhecido devido à  truculência do presidente da República no trato com os estudantes que reagiu com, violência, prisões e enquadramentos na Lei de Segurança Nacional;

Em 1984, durante o governo de Esperidião Amin, o Palácio- sede do governo  foi tombado e deixou de ser a sede administrativa do governo. Agora o Palácio tombado como Patrimônio Histórico de Santa Catarina ficaria então reservado aos grandes atos oficiais, solenidades e recepção de diplomatas. 

Dois anos depois, em 05 de dezembro de 1986, o Palácio passa a abrigar o Museu Histórico de Santa Catarina e é tombado pelo Município.

Mas quem foi Cruz e Souza que deu nome ao palácio??

Conhecido como Dante Negro ou Cisne Negro, João da Cruz nasceu em 24 de novembro de 1861, na cidade de Nossa

Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, capital da então Província de Santa Catarina.

Filho de escravos alforriados, recebeu educação graças ao Marechal Guilherme Xavier de Sousa, de quem “herdou” o segundo sobrenome. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do naturalista alemão Fritz Müller. 

Em 1884, Cruz e Sousa é convidado pelo sociólogo Francisco Luís da Gama Rosa que era o então Presidente da Província de Santa Catarina, para ser Promotor Público de Laguna (SC), mas o ato é impugnado pelos chefes políticos da região que não toleravam a ideia de um promotor negro.

Em 1885, lançou seu primeiro livro, Tropos e Fantasias com Virgílio Várzea. Cruz e Sousa, considerado o precursor do simbolismo no Brasil, sua morte ocorreu em 19 de março 1898, no povoado e estação de Sítio (MG), aos 36 anos, vítima de tuberculose.

Estive no Museu Histórico de Santa Catarina em fevereiro de 2022. Ao chegar, não tem como não se impressionar: é um palácio rosa com enormes portas de madeiras, estátuas e jardins internos. 

Ao adentrar o Palácio e olhar para baixo, um piso de marchetaria com mandalas compostas por madeiras de diferentes cores. Fui para a visita guiada ao museu com a guia Veronice. 

Começamos no salão interno de entrada do museu, ali ele foi apresentado, sua história de fundação, a homenagem ao poeta e o teto da cúpula adornado com Hermes(deus grego das viagens e do comércio). Fui informada da exposição 200 Anos de Anita Garibaldi: Vida, coragem e paixão.

Na sequência,  fomos caminhando para a área externa do pátio interno do palácio. Placas com fotos e textos ilustram a narrativa detalhista da guia. Na área externa, no pátio, é possível ver o jardim e o anfiteatro, além do painel de 900 metros grafitado pelo artista Rodrigo Rizo com o retrato de Cruz e Souza e o desenho de um enorme cisne negro, alcunha do poeta. 

Após conhecer a roseira de Anita (que estava sem rosa pois havia florido em janeiro), fomos informado do acervo arqueológico do museu, composto por 68 mil peças encontradas durante a reforma realizada entre os anos de 2002 e 2003, onde foram encontradas peças dos séculos XVIII, XIX e XX. No jardim do palácio é possível ver alguns pedaços de cerâmica em uma caixa de vidro. 

Do jardim, caminhamos para dentro do palácio, para um salão com chão de madeira e arcos de ferro onde havia um piano e uma coleção de tapeçaria temática sobre Santa Catarina do artista Almir Tirelli. As peças são enormes painéis coloridos de tapeçaria que ilustram aspectos da arquitetura e da cultura de Santa Catarina: a rendeira, o pescador, a tainha etc.  Criadas em 1976,  sob encomenda para adornar o Aeroporto Hercílio Luz que seria inaugurado naquele ano. Em 2020, as peças foram doadas à Fundação Catarinense de Cultura.

Para encerrar, fomos encaminhados para a saída onde se via uma instalação onde é possível ver um pequeno frasco com um rótulo antigo onde se lê: ÁGUA DECOLONIAL- Caldas dos Boronenos. A obra é uma instalação do artista chamado Silfarlem Oliveira. A obra faz parte de uma exposição temporária (então provável que quando vc for visitar  ela já não esteja)  que questiona os acervos dos museus históricos que geralmente documentam a história a partir de uma ótica que invisibiliza os a presença dos povos indígenas Guarani, Kaingang e Xokleng e sua precedência em Santa Catarina. A obra é uma provocação que pretende descolonizar os museus e os monumentos e ativar a memória histórica a partir de um ponto de vista que conta a História e revele a presença dos indígenas e sua influência na cultura. É preciso descolonizar as ideias. 

Ao lado da instalação, pudemos avistar os restos mortais do poeta numa urna de madeira que estava sobre uma mesa de madeira e o Termo de Translado -que foi a autorização da exumação dos restos mortais do poeta do Cemitério de São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro para Florianópolis); 

E, por fim, na última parede antes de retornar ao salão inicial, um quadro de Cruz e Souza, vestido de terno, com o cabelo e bigode penteados, jovem e altivo. Assim terminou a visita. 

[Som transiçâo]

Bom, como pudemos ver, museus são lugares vivos que se transformam a todo momento. Cada experiência é única, mas há aqueles itens do acervo permanente. No caso do Museu Histórico de Santa Catarina são:

  • Móveis ao estilo de D. João VI (anteriores ao Palácio) trazidos do Rio de Janeiro; 
  • Cópia da célebre obra A Primeira Missa no Brasil, do expoente da cultura catarinense – Victor Meirelles;
  • O piano francês Pleyel, adquirido pelo grande maestro José Brazilício de Souza em 1884; 
  • Um violino, e uma caixa de música alemã estilo art nouveau e;
  • A primeira lâmpada elétrica residencial de Santa Catarina;

[Som transição] 

Essa foi nossa aventura de hoje: no Museu Histórico de Santa Catarina.

O museu funciona de terça à  sexta das 10h às 18h.  Aos sábados funciona das 10h às 13h.

Entrada Franca.

Agendamento via e-mail: mhsc@fcc.sc.gov.br

 

Foi um prazer te guiar até aqui!

Gostou de saber sobre esse museu?

Você já o conhecia??

Quer ouvir a história de algum museu aqui no nosso podcast??

Manda um email pra gente: 

podcastmuseussc@gmail.com

Novos episódios todos os sábados às 10h da manhã.

 

Roteiro e Produção:Taiana Martins

Edição de Som e vinheta original: Gustavo Elias 

Apresentação: Taiana Martins

 

A primeira temporada do podcast Museus de Santa Catarina foi selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura – Edição 2021, executado com recursos do Governo do Estado de Santa

Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura.

 

Para saber mais, siga-nos nas redes sociais e no site do projeto: www.podcastmuseussc.com.br  

Um abraço e 

Até a próxima!!

Referências Bibliográficas

BHRUNS, Katianne. Museu Histórico de Santa Catarina: discurso, patrimônio e poder (1970-1990) Tese de Doutorado apresentada no PPGH da UFSC, Florianópolis, 2010.

FÁVERI, Marlene. Novembrada. Fronteiras: Revista Catarinense de História, n. 24, p. 61, 6 jun. 2018.

MACEDO, Káritha Bernardo de; SANT’ANNA, Mara Rúbia. A produção de uma narrativa visual acerca do Palácio Cruz e Sousa, sede do Museu Histórico de Santa Catarina.Revista GEARTE, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 193-214, jan./abr. 2020.

Para citar esse podcast:

Podcast Museus de Santa Catarina – Sua visita guiada aos museus do estado. Taiana Martins. Florianópolis, 2022.

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